quinta-feira, 19 de abril de 2012



Ah, minha Dinamene, assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como, já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que ainda tenho por pouco a viver triste?

Neste soneto o Poeta evoca a lembrança de uma jovem amada, a quem chama Dinamene. Este mesmo nome surge em outras peças líricas e é evidente um criptônimo sob o qual se esconde um nome, que Camões tinha motivos para não revelar. Segundo uma cópia manuscrita da Década VIII de Diogo do Couto, Dinamene seria uma moça chinesa, que o teria acompanhado na viagem de regresso da China e perecida no naufrágio da foz do Mecom. Os nossos eruditos supõem, porém, que aquela cópia de Couto é uma falsificação do século XVII que, com grande probabilidade, procura justamente esconder a verdadeira identidade de Dinamene sob a poética lenda da moça chinesa. Tem toda a verossimilhança a hipótese de J. H. Saraiva de que as primeiras letras do criptônimo Dina  são as iniciais de D. Joana Noronha de Andrade, filha de Violante. Sucede que a família desta jovem usava o apelido de Meneses, o que pode explicar as últimas letras do nome enigmático. A palavra Dinamene já existia no vocabulário poético, e foi usada quer em escritores da Antiguidade, quer em Garcilaso, que assim designa uma ninfa do Tejo. É muito verossímil que Camões tenha recolhido a palavra, impressionado por tantas coincidências com o verdadeiro nome da jovem amada.

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