quinta-feira, 19 de abril de 2012

A LÍRICA DE CAMÕES



A personalidade que hoje nos ocupa é tão vasta, tão rica, que apenas podem-se mostrar através de seu lirismo os marcos miliários de sua grande vida.
Apesar de existirem muitos estudos camonianos pouco se sabe, com segurança, sobre a sua vida. A sua biografia é escassamente documentada e incerta. Porém, adotamos como referência estudiosos que se dedicaram extremamente à pesquisa e ao estudo de Camões. Todos os sonetos citados nesse ensaio crítico serão cronologicamente organizados em sua antologia.
Sua lírica insere-se na chamada época clássica da literatura portuguesa. Pode se apresentar por meio de características de estilo clássico, embora a maior parte dela, sobretudo os sonetos, seja marcada por inquietudes, dinamismo turbulento e forte subjetividade, contrastando assim, com a sobriedade, o equilíbrio e a objetividade do Classicismo. Temos, portanto, uma lírica marcada por um “tom apaixonante”, pelo uso de paradoxos, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outros. Suas composições eram feitas em:
Medida velha – redondilhas menores de cinco sílabas poéticas e maiores, de sete sílabas poéticas. Os temas mais comuns em medida velha são o amor (geralmente associado à paisagem bucólica), a saudade e o desconcerto com o mundo em que o autor apresenta a visão de um mundo absurdo, de natureza dinâmica, labiríntica e, portanto, incompreensível. Para o poeta, a única certeza que temos neste mundo é que tudo muda o tempo todo e que, toda mudança anuncia sempre uma perspectiva sombria (tudo dá errado).
Medida nova – versos decassílabos de dez sílabas poéticas. Camões atinge momento máximo de poesia lírica especialmente em seus sonetos, cuja influencia dos sonetos petrarquistas é evidente, embora a originalidade de Camões faça com ele ora se nivele, ora supere seu “modelo”. Os temas mais comuns em medida nova são: a) o amor – retratado em seus sonetos segundo diferentes fases de sua vida: a juventude, a idade mais madura e a perda do amor. b) a mudança (é um fato imprevisível na maioria das vezes e que sempre traz ao homem transformações para o pior. c) desconcerto com o mundo – o autor adota a visão do neoplatonismo, vendo assim o mundo sensível constituído de aparências sempre enganosas, e contradições que causam grande confusão a tudo, diante disso o eu lírico se mostra sempre diante de situações de aflição e sofrimento.
Também escreveu em medida nova, além dos sonetos descritos, éclogas (poesia em forma de diálogo, com tema pastoril), elegias (composições que expressam tristeza), canções (composições curtas), oitavas (poemas com as estrofes de oito versos), e sextinas (poemas com as estrofes de 6 versos).
Ainda moço, atirado em uma vida tormentosa, tinha amigos rebeldes que viviam pelas ruas da cidade. O “Malcozinhado”, bordel de má fama lisboeta, é o lugar preferido para refastelar-se. Gostava de observar o sexo oposto. Assediava, falava, cantava. Tudo isso serviu de inspiração para o soneto escrito em medida nova: “Amor é fogo que arde sem se ver [...]”.
Mas a vida do poeta não é feita só de encontros fortuitos. Alterna pequenos momentos de contentamento com indagações profundas sobre si mesmo. Nos seus pensamentos, os apetites carnais entram em colisão com a visão platônica que tem da mulher e dos sentimentos amorosos. Transfere a contradição para a lírica. Compõe o amor no seu mais alto anseio espiritual, afetivo. O amor transcendente, e imaculado manifesta-se no soneto "Transforma-se o amador na cousa amada [...]”.
Arremessado para a África inculta e para a Índia também escura, agitada e encantadora. Sem livros nem recursos para comprar, nem mercado em que os adquirisse - os seus escritos, repletos de brilhante erudição, constituem um fenômeno que espanta a razão fria dos críticos alemães.
“Como pode esse moço pobre prover-se da biblioteca rica e abundante que se reflete em seus escritos?”
A resposta é sem duvida a que dá Storck. Frei Bento de Camões, tio do poeta, era chanceler da Universidade, e graças a essa circunstância teve Camões à oportunidade de estudar com avidez aqueles documentos e livros, que o auxiliaram em seu intelecto, possuidor de uma rara capacidade de assimilação e de uma memória muito extensa.
Educado em Lisboa por dominicanos e jesuítas, seu tio D. Bento de Camões, além de chanceler da Universidade, é também prior do Mosteiro. Conta-se que o poeta é levado a frequentar o Paço por D. António de Noronha, cuja morte é citada em seu soneto “À morte de D. Antônio de Noronha”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário