quinta-feira, 19 de abril de 2012


ANTOLOGIA

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Inspirado num celebre soneto de Petrarca (“Pace non trovo e non ho da far guerra”), o soneto tem por tema os paradoxos do amor. A originalidade da sua estrutura é dada pelo terceto final que, após uma série de onze proposições lapidares, correspondentes a outros tantos versos, termina por uma pergunta que define a suprema contradição: se no Amor tudo são contradições, como pode ele conduzir os corações à conformidade?

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